Subi no ônibus pensando em como seria bom se eu já estivesse com meu carro. Não pensei em nada exorbitante, fui bastante modesta na escolha do veículo, juro. Mas encarei a realidade e nem bem subi no maldito, o motorista já tinha acelerado. Se haviam 6 pessoas no ônibus, haviam muitas. Pelo menos isso.
Sentei à direita, próxima das cadeiras especiais. Não passaram-se 3 minutos e ele estava à minha frente, pedindo licença para sentar-se na cadeira ao lado da minha, na janela. Só o que pude notar, nesse curto espaço de tempo, foi uma bela e despretensiosa camada de pelos em seu rosto. Barba muito bonita.
Assim que ele sentou e acomodou-se, me perguntei o porquê da escolha daquela cadeira, exatamente alí, ao meu lado, na "minha" janela. Com infinitas possibilidades de assentos naquele ônibus (que, por azar o meu, eu nem sabia o nome), ele sentou comigo. Na pior das hipóteses, cogitei um assalto. Mas não. Não era.
Pensei em virar disfarçadamente a cabeça em direção à janela e olhá-lo mais um pouco, quando percebi que ele estava fazendo o mesmo. Fiquei tesa e provavelmente iniciou-se um degradê entre minha pele e meu cabelo: enrubesci. Ele parou de olhar, eu olhei de volta. Isso se repetiu umas duas vezes e eu, num (in)conveniente mecanismo de defesa, dei risada. Ele riu também. Sorriso muito bonito.
Primeiro contato visual. Ele se apressou e iniciou a conversa, ainda rindo.
- O que foi? Do que está rindo?
- Nada, nada. (Sorrisos, sorrisos...)
- Qual é o seu nome?
- Fernanda.
- Sou Rafael. Prazer, Fernanda. - Disse estendendo a mão para um aperto. Primeiro contato físico.
A conversa durou uns 5 minutos, com intervalos de 5 segundos de silêncio, por conta, principalmente, da minha timidez. Mas ele prontamente não deixava que a conversa cessasse.
Rafael mora um pouco longe, trabalha perto de mim e estuda música. Se forma ano que vem.
Meu ponto já estava próximo quando eu constatei que poderíamos rodar a cidade naquele ônibus e nunca parar de conversar. Meu mundo tinha um súbito interesse naquele mundo que estava à minha frente.
Quando me despedi, ele disse:
- Espero encontrá-la novamente. - (Que sorriso bonito.)
- Também espero... Prazer, Rafael. - Sorri bonito também.
Fui o caminho todo até chegar em casa rindo feito uma idiota. As pessoas me olhavam torto e eu não conseguia parar de sorrir. Quanto mais eu constatava a minha idiotice, mais sorria.
Não sei nada mais sobre Rafael e nem sei se nos veremos novamente. Esses momentos são tão corriqueiros, mas quem sabe o que nos espera? Sempre gostei de idealizar as coisas mais peculiares possíveis, sem correr o risco de uma possível decepção. Sou libriana nata: sofro para sempre, mas só até amanhã.
Acredito que o destino sempre faz a parte dele quando a gente faz a nossa...
Ah, quer saber? Quem precisa de carro mesmo?
[Essa imagem é do filme "My Sassy Girl" (Ironias do amor, na terrível tradução pro português), do diretor Yann Samuell, que fez um remake norte-americano do filme sul-coreano de 2001. Comédia romântica sim, sem preconceitos. Chorei pra me acabar. No filme, Charlie (Jesse Bradford) é um estudante tímido e idealista que nunca conheceu uma paixão. Quando ele salva da morte a bela Jordan (Elisha Cuthbert), sua vida muda para sempre. Os dois se aproximam e Jordan envolve Charlie em um excêntrico jogo de sedução. Para conquistar seu amor, Charlie será testado à exaustão. Vale a pena assistir. Depois me contem o que acharam!]