sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Metalinguagem

Meu poema possui todo o meu peso
Toda a minha matéria
Me ponho no papel
Me dou
Como quem salva uma vida

Meu poema possui a minha cor
Tão claro para que possa ser visível
Minhas veias, meu sangue
Meus poros, meus pêlos

Meu poema possui minha cara
Meu momento sem máscara
A urgência do sentimento
O excesso das minhas palavras

Meu poema é cínico
É paradoxal e inconstante
Amoroso ou gritante
Discreto ou impudico
Engajado em mim

Meu poema fala
Berra
Cala
Passionalmente vivo
Sem sentido
Sem indício de perfeição

Meu poema sou eu
Leia-me.



[Na foto, a minha amada Clarice. Não precisa ter porquê.]

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Poeminha rápido

Não é tão difícil perceber
Que o interesse me domina
Eu te olho
Como se dissesse
Você me olha
Não sei com que olhos
Não sei de que forma
Só sei que seus olhos
Chamam os meus
Só sei que meus olhos
Vibram com os seus
Só sei que nossos olhos
No segundo do nosso encontro
Conversam
Se entendem
Se olham
E se beijam.




(Espero que você entenda.)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Amores breves

Subi no ônibus pensando em como seria bom se eu já estivesse com meu carro. Não pensei em nada exorbitante, fui bastante modesta na escolha do veículo, juro. Mas encarei a realidade e nem bem subi no maldito, o motorista já tinha acelerado. Se haviam 6 pessoas no ônibus, haviam muitas. Pelo menos isso.
Sentei à direita, próxima das cadeiras especiais. Não passaram-se 3 minutos e ele estava à minha frente, pedindo licença para sentar-se na cadeira ao lado da minha, na janela. Só o que pude notar, nesse curto espaço de tempo, foi uma bela e despretensiosa camada de pelos em seu rosto. Barba muito bonita.
Assim que ele sentou e acomodou-se, me perguntei o porquê da escolha daquela cadeira, exatamente alí, ao meu lado, na "minha" janela. Com infinitas possibilidades de assentos naquele ônibus (que, por azar o meu, eu nem sabia o nome), ele sentou comigo. Na pior das hipóteses, cogitei um assalto. Mas não. Não era.
Pensei em virar disfarçadamente a cabeça em direção à janela e olhá-lo mais um pouco, quando percebi que ele estava fazendo o mesmo. Fiquei tesa e provavelmente iniciou-se um degradê entre minha pele e meu cabelo: enrubesci. Ele parou de olhar, eu olhei de volta. Isso se repetiu umas duas vezes e eu, num (in)conveniente mecanismo de defesa, dei risada. Ele riu também. Sorriso muito bonito.
Primeiro contato visual. Ele se apressou e iniciou a conversa, ainda rindo.
- O que foi? Do que está rindo?
- Nada, nada. (Sorrisos, sorrisos...)
- Qual é o seu nome?
- Fernanda.
- Sou Rafael. Prazer, Fernanda. - Disse estendendo a mão para um aperto. Primeiro contato físico.
A conversa durou uns 5 minutos, com intervalos de 5 segundos de silêncio, por conta, principalmente, da minha timidez. Mas ele prontamente não deixava que a conversa cessasse.
Rafael mora um pouco longe, trabalha perto de mim e estuda música. Se forma ano que vem.
Meu ponto já estava próximo quando eu constatei que poderíamos rodar a cidade naquele ônibus e nunca parar de conversar. Meu mundo tinha um súbito interesse naquele mundo que estava à minha frente.
Quando me despedi, ele disse:
- Espero encontrá-la novamente. - (Que sorriso bonito.)
- Também espero... Prazer, Rafael. - Sorri bonito também.
Fui o caminho todo até chegar em casa rindo feito uma idiota. As pessoas me olhavam torto e eu não conseguia parar de sorrir. Quanto mais eu constatava a minha idiotice, mais sorria.
Não sei nada mais sobre Rafael e nem sei se nos veremos novamente. Esses momentos são tão corriqueiros, mas quem sabe o que nos espera? Sempre gostei de idealizar as coisas mais peculiares possíveis, sem correr o risco de uma possível decepção. Sou libriana nata: sofro para sempre, mas só até amanhã.
Acredito que o destino sempre faz a parte dele quando a gente faz a nossa...

Ah, quer saber? Quem precisa de carro mesmo?



[Essa imagem é do filme "My Sassy Girl" (Ironias do amor, na terrível tradução pro português), do diretor Yann Samuell, que fez um remake norte-americano do filme sul-coreano de 2001. Comédia romântica sim, sem preconceitos. Chorei pra me acabar. No filme, Charlie (Jesse Bradford) é um estudante tímido e idealista que nunca conheceu uma paixão. Quando ele salva da morte a bela Jordan (Elisha Cuthbert), sua vida muda para sempre. Os dois se aproximam e Jordan envolve Charlie em um excêntrico jogo de sedução. Para conquistar seu amor, Charlie será testado à exaustão. Vale a pena assistir. Depois me contem o que acharam!]